Drenagem Ácida de Mineração (DAM): formação, previsão e soluções

DAM - ilustração

A DAM surge quando água e oxigênio reagem com sulfetos (ex.: pirita), gerando ácido sulfúrico que mobiliza metais. Para antecipar e controlar, combinamos mineralogia + ensaios estáticos (com MABA, NAG e SPLP) + ensaios cinéticos + hidro(geo)logia/modelagem.

A prioridade é prevenir na fonte; quando necessário, aplicar tratamentos ativos, passivos ou híbridos, dimensionados por carga (kg/dia).

O que é DAM e por que acontece?

Quando a água (chuva, lençol, processo) percola materiais sulfetados expostos (pirita FeS₂, pirrotita, calcopirita etc.), ocorre oxidação e formação de ácido sulfúrico, que reduz o pH e solubiliza metais.

Reação simplificada:

2 FeS + 7 O + 2 HO → 2 Fe² + 4 SO² + 4 H

  • Metais se mobilizam em pH baixo (Fe, Mn, Al, Cu, Zn, Ni etc.).
  • Bactérias ferro/sulfur-oxidantes (ex.: Acidithiobacillus) aceleram as reações.
  • Carbonatos (calcita/dolomita) podem neutralizar parte da acidez; quando a alcalinidade se esgota, a DAM se instala.
  • O balanço entre potencial ácido (enxofre sulfetado) e potencial de neutralização (carbonatos/silicatos reativos) define materiais PAF (potencialmente acidificantes) ou NAF (não acidificantes).

Onde a DAM costuma aparecer?

  • Pilhas de estéril: heterogeneidade e alta aeração criam “hot spots” de oxidação.
  • Pilhas de rejeito/ROM: porosidade elevada e finos reativos aumentam a taxa.
  • Barragens de rejeito (finos/lodos): zonas não saturadas (praia/taludes/drenos) e rebaixamentos expõem sulfetos.
  • Cavas/pátios: taludes/fraturas expostos; flutuações do nível d’água geram reoxidação.
  • Estruturas auxiliares: bota-fora, vias e bacias com material PAF viram fontes difusas.

Como determinar o potencial de geração de DAM?

1) Mineralogia e geoquímica

  • Identifique fases: sulfetos, carbonatos e óxidos (DRX, MEV, QEMSCAN).
  • Química de base: S total, S sulfetado, TIC (carbono inorgânico total) e metais-traço.

2) Ensaios estáticos (triagem, resposta rápida)

Testes para Avaliação do Potencial de Geração de Drenagem Ácida e Mobilidade de Contaminantes

1. MABA (Modified Acid Base Accounting)

O MABA é uma evolução do tradicional ABA (Acid Base Accounting), usado para calcular o balanço entre:

  • Potencial de geração de ácido (AP): estimado a partir do teor de enxofre sulfetado presente no material.
  • Potencial de neutralização (NP): capacidade do material de neutralizar acidez, geralmente por carbonatos.

O que diferencia o MABA?

  • Considera sulfetos não reativos (que não oxidam facilmente).
  • Ajusta o NP para carbonatos parcialmente reativos, evitando superestimativa da neutralização.
  • Fornece um resultado mais realista para materiais complexos.

Por que é importante? O MABA indica se o material é:

  • Potencialmente ácido (AP > NP).
  • Potencialmente neutro (NP > AP).
  • Indeterminado (necessário teste cinético).

2. NAG (Net Acid Generation)

O NAG é um teste rápido que simula a oxidação completa dos sulfetos:

  • A amostra é tratada com peróxido de hidrogênio (HO), acelerando a reação que ocorreria naturalmente.
  • Mede-se o pH final e a acidez líquida após a reação.

Por que é útil?

  • Indica se o material gera acidez quando todos os sulfetos são oxidados.
  • Complementa o MABA: se ambos indicam potencial ácido, o risco é alto.

3. Testes de Lixiviação e Mobilidade

Esses testes avaliam como os contaminantes se comportam em contato com água, simulando diferentes cenários:

SPLP (Synthetic Precipitation Leaching Procedure)

  • Simula a lixiviação por chuva ácida.
  • Usa solução com pH ajustado (4,2 ou 5,0) para imitar precipitação ácida.
  • Mede quais metais e íons podem ser mobilizados para águas superficiais.

EPA 1313 – Leaching under pH Control

  • Avalia a solubilidade de metais em diferentes pHs (de ácido a alcalino).
  • Importante para prever comportamento em cenários de drenagem ácida ou alcalina.

EPA 1314 – Liquid-Solid Partitioning vs. L/S Ratio

  • Mede a liberação de contaminantes conforme aumenta a relação líquido/sólido.
  • Simula infiltração progressiva em pilhas ou barragens.

EPA 1315 – Mass Transfer in Monolithic Materials

  • Indicado para materiais compactados (blocos, monólitos).
  • Mede a taxa de lixiviação ao longo do tempo, útil para estruturas estabilizadas.

EPA 1316 – Partitioning vs. Particle Size

  • Avalia como a granulometria influencia a mobilidade dos contaminantes.
  • Materiais finos tendem a liberar mais rapidamente.

Por que usar esses testes?

  • MABA e NAG → indicam potencial de geração de ácido.
  • SPLP e EPA → mostram como contaminantes podem se mover para águas superficiais ou subterrâneas.
  • Juntos, permitem planejar medidas preventivas e definir estratégias de tratamento.

3) Ensaios cinéticos (taxas ao longo do tempo)

  • Célula de Umidade (ASTM D5744): ciclos semanais de molha/secagem por 20–40+ semanas com análises de pH, acidez, sulfato e metais → taxas de geração de acidez e cargas.
  • Colunas / “pad tests” / pilotos em campo: ajustam granulometria, saturação e fluxo às condições da mina.

4) Integração hidro(geo)lógica e climática

  • Balanço hídrico (chuva, evap., infiltração, escoamento) + rotas de fluxo superficial/subterrâneo.
  • Modelagem geoquímica (diagramas Eh–pH, softwares dedicados): especiação, precipitados (jarosita, schwertmannita, gipsita) e dimensionamento do tratamento.
  • Resultados sempre em carga (kg/dia) para comparar alternativas técnicas e custos.

5) Classificação operacional

  • Segregue por domínio geológico e fase de lavra: NAF / marginais / PAF, com controle de qualidade em rotina (ex.: NAG rápido + S-sulfetado; revisões por campanha).

Fechando

A melhor DAM é a que não se forma. Comece pela prevenção na fonte, gerencie água e oxigênio e, quando necessário, trate com a rota mais eficiente para a sua carga.

Integrar geologia, processo, engenharia e gestão ao longo do ciclo de vida da mina é o que transforma diagnóstico em desempenho ambiental sustentável.

Dúvidas? Fale com a Apoan. Estamos à disposição!

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Categorias
Newsletter
Não perca novidades sobre sustentabilidade e legislação ambiental — cadastre-se!